Monique Edelstein
Se eu me deixasse desencantar pelas dores não teria me alegrado
pelas celebrações.
Quando uma historia começa, é porque havia um espaço ali a ser
preenchido, um vazio a ser ocupado. Algo deixou de existir, algo se foi, algo
se diluiu.
Mesmo quando tudo esta como queríamos, ou pelo menos assim
pensamos que assim queríamos, ajustamos daqui, empurramos dali, cedemos um
pouco, apertamos outro tanto e então, lançando aquele olhar de avaliação,
elevamos o canto dos lábios com satisfação e um pensamento corre enquanto um
suspiro voa de nós. “Ahhh!! Que gostoso!! Do jeito que eu pensei”.
Daí, sem mais nem menos, uma alegria cruza de surpresa seu caminho
e você se dá conta de que todo aquele arranjo era tão menor do que o que te
cabia.
E você se da conta de que havia cedido além da conta, que havia deixado
de lado coisas importantes, que abriu mão de um contrato de autorespeito e auto
amor porque é assim que você esta acostumada. Porque foi assim que você fez até
hoje.
A existência te dá a oportunidade de uma experiência como num
compacto, onde você precisa confirmar o aprendizado de algumas matérias. Tipo
aula de revisão antes da aprovação final.
E aquilo que você achou que era alegria não era nada mais do que
um simulado te preparando para algo além da conta, algo além do que você julgou
ser sua alegria.
Então desencantos, sejam bem vindos, me mostrem que eu posso mais,
que eu mereço mais. Que as alegrias com que me deixo empolgar sejam poucas
frente àquelas que me cabem. Que meu entusiasmo pela vida e pela busca do que
me aguarda seja alimentado por esta constante generosidade com que a Existência
me alimenta.